Imperialismo democrático…


Ninguém com sentido de dignidade pode sentir-se tranquilo vendo como os iraquianos saltam pelos ares, se assassinam entre eles, utilizam “mártires” para destruir vidas alheias, quantas mais melhor, em nome duma cruzada libertadora do Grão Satã norte-americano. Repugna ver, hoje mesmo, como no Iraque mataram mais de setenta, amanhã mais de quarenta… pessoas como consequência de atentados terroristas ou da resistência, é-me igual. 

O Iraque é um inferno. A teoria do império democrático, que os ideólogos de Bush queriam impor no mundo, é um fracasso. Nem um único país está hoje mais livre ou democrático pelo facto de a doutrina de Bush, de utilizar a força para libertar os povos. É um desastre. 

Fico melhor com as teses europeias, que acolheram dez novos países de onde não havia liberdade e hoje se preparam para se juntar a um grande projecto que pratica a doutrina do poder suave, de convicção, de participação desde baixo, e não se deixou somar às teorias neo-conservadoras norte-americanas, de impor a democracia com exércitos. 

Devo dizer, em honra da verdade histórica, que a Europa pôde construir este formidável espaço de liberdades, graças à intervenção militar, política e económica dos Estados Unidos, ao acudir, por duas vezes, à Europa, no século passado, para nos livrar de nossos fantasmas e de nossos totalitarismos nascidos, desenvolvidos e executados perversamente, na e desde a Europa. 

Havia uma causa que mereceu a pena bater-se por ela. A Europa aprendeu muitas coisas com os Estados Unidos. Não a do poder, senão a da convicção. Pode dizer-se que a Europa não utiliza a força porque a não tem e porque está em queda livre. Recorreu a ela tantas vezes na história, com resultados tão lamentáveis, que não vale a pena recordá-la. 

Não estamos em condições de dar lições a ninguém. Mas podemos dizer, isso sim, com os nossos próprios erros às costas, que o caminho empreendido pela administração Bush está errado. Mais; é contraproducente. 

Até ao ponto que o presidente Bush não pode sair dois Estados Unidos sem que seja recebido aos gritos, pelas pessoas que encontra no seu passo. O grande erro da guerra do Iraque, construída sobre uma mentira, o perseguirá até que termine o mandato. Dentro dos Estados Unidos, onde a suas popularidade está de rastos, e também fora da América. 

Inicia Bush uma visita de três dias à China. O Governador da Califórnia, o austríaco Arnold Schwarzenegger, anda também pelo império do centro. Será bem recebido, como corresponde a uma visita de estado. Mas, os mesmos chineses sabem o que se passa no mundo e conhecem que a estratégia de Bush causou muita insegurança no mundo. No Iraque, por exemplo, perpetram-se mais acções terroristas que antes da ditadura, de Saddam Hussein, tivesse sido derrubada.
Bagdade não é um foco de liberdades no Médio Oriente, mas sim o epicentro duma fábrica de terroristas, que exportam as suas matanças para países muçulmanos, comos e demonstrou em Amã há uns dias. Bush optou pela força e abandonou a persuasão, afastando-se da tradição liberal americana. 

Antes de chegar à China, fez um chamamento desde Quioto, animando os chineses para que conquistem a liberdade, para que possam expressar-se livremente, para que possam rezar sem serem castigados pelo Estado, para que possam imprimir Bíblias e outros textos sagrados sem temor. Está muito bem. 

Mas os chineses não lhe dão credibilidade, nem tão-pouco os americanos. O debate sobre o tratamento aos prisioneiros, terroristas ou não, corrói o seu discurso. Esses aviões que transportam suspeitos, os aviões da CIA, para serem interrogados não se sabe onde, esses centros secretos de inteligência disseminados por meia Europa, esses presos de Gauntánamo, que não podem aconchegar-se às Convenções de Genebra, os mortos diários iraquianos, que se matam entre eles, os dois mil soldados americanos falecidos numa guerra inútil, planeada e executada com uma mentira de fundo…tudo isso foi um grande erro que não pode cometer o líder da primeira democracia do mundo. 

Recordo aquele apelo, desesperado, que o Papa João Paulo II fez antes que se declarasse a guerra: “Aqueles que apoiam esta guerra, terão que prestar contas à sua consciência, a Deus e à história”:
Também assim penso.

Rio Tinto, 25 de Novembro 2005

 

Data de introdução: 2005-12-29



















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