CENTRO SOCIAL AMIGOS DA LARDOSA, CASTELO BRANCO

Inovar no apoio apostando na resposta Centro de Dia

A cerca de 18 quilómetros de Castelo Branco, sede do concelho, a freguesia da Lardosa resiste com menos uma população que não chega aos mil habitantes e uma população idosa significativa e a necessitar cada vez mais de apoio.
Foi há quase 32 anos, em Maio de 1985, que foi concretizado o sonho de um grupo de lardosenses, que há muito procurava um local onde instalar uma unidade de apoio a pessoas idosas.
“Esta é uma instituição que esteve sempre ligada ao nome amigos, daí ter a palavra amigos no nome e toda ela foi um marco de empreendedorismo social na freguesia”, sublinha José Alves, presidente da instituição.
Um conjunto de vontades reuniu-se em torno de uma necessidade da comunidade e, em 1985, nasce como Centro de Dia. No ano seguinte são inauguradas as instalações na Casa do Povo.
Como no início estava, os recursos eram poucos ou nenhuns, mas o espaço necessitava de intervenção, porque “aquilo era um logradouro e foi necessário construir as instalações”.
A esta altura há um episódio delicioso, protagonizado pelo governador civil Francisco Romãozinho e João Coelho, o lardosense que sonhou a instituição.
«Parecia estar-se perante um impasse, uma vez que sem apoios a obra não poderia ir para a frente e parecia continuar apenas no sonho, eis senão quando, o Sr. Governador Civil no intuito de ajudar a tornar o sonho realidade desde logo se mostrou disponível, disponibilidade essa que o povo de Lardosa saberá sempre respeitar com estima e consideração. Por ser pertinente, aqui fica registado, esse diálogo que foi mais ou menos o seguinte:
- “Bom, Sr. João Coelho, quanto precisam para iniciar a obra?
- Sr. Dr. Romãozinho, talvez uns 80 contos.
- Está bem, passe pelo Governo Civil na próxima segunda-feira, que terão lá 100 contos para o início desta obra”.
Esta atitude foi tão incentivadora, que a partir daí não podia haver o voltar atrás neste processo e o sonho estava a um passo, se bem que grande, mas a realidade estava a aproximar-se e ao alcance do povo de Lardosa», pode ler-se no site da instituição.
A par do Centro de Dia surgiu também “uma amostra de Serviço de Apoio Domiciliário” e, pouco tempo depois, criou igualmente um ATL, que funcionou até ao ano de 2015.
José Alves não nega que “a ideia sempre foi construir um lar”, contudo não havia terreno. “Até que um dia um casal de beneméritos doou um terreno, onde existia uma casa, algumas árvores de fruto e um poço, para ser construído o lar”, conta, recordando as dificuldades que a instituição passou para conseguir completar a obra, que arrancou em 1999 e foi inaugurada em 2003.
“A construção foi muito espaçada no tempo porque nem sempre os apoios eram suficientes para fazer a obra. Os apoios estatais e autárquicos, nessa altura, não eram muito convincentes e, como o dinheiro que havia era muito pouco, foi feito um périplo por toda a aldeia e junto de alguns amigos para recolher fundos. Cada um dava o que podia, uns davam dinheiro, outros dias de trabalho, outros materiais de construção e foi assim que começou”, recorda José Alves, sublinhando o “enorme apoio que sempre houve por parte da comunidade”.
A população angariou 37 mil contos e a Câmara deu cinco mil, já “a Segurança Social deu zero”, contribuindo apenas para equipar o edifício.
“Esta casa teve apenas o esqueleto durante algum tempo porque não havia dinheiro para completar a obra”, lamenta, frisando algo que considera de enorme importância no ADN da instituição: “Tudo isto foi conseguido e foi possível porque as pessoas uniram-se e estiveram coesas em torno desta ideia”.
Em resumo, foi o apoio do Governo Civil de Castelo Branco para o arranque da instituição foi decisivo, o da Câmara Municipal, liderada por Joaquim Mourão, determinante para a construção do lar e a população da Lardosa foi o cimento da empreitada.
Atualmente, o Centro Social Amigos da Lardosa acolhe 33 utentes em ERPI e 25 em Centro de Dia e apoia 24 idosos em SAD. A par disto, tem uma Cantina Social que serve cinco refeições/dia e fornece ainda 16 refeições/dia à escola e jardim-de-infância da aldeia. A equipa conta com 33 funcionários.
Contudo, apesar de as respostas sociais estarem todas na capacidade máxima, a instituição debate-se com o problema dos reduzidos Acordos de Cooperação.
“Atualmente, para ERPI o Acordo de Cooperação é para 30, mas temos 33 utentes, não sendo a situação mais gravosa”, sustenta José Alves, apontando: “Em termos de sustentabilidade, a nível de Centro de Dia e de SAD os acordos são reduzidos, apesar da minha insistência junto da Segurança Social”.
É que em Centro de Dia a instituição tem 25 utentes e apenas oito estão protocolizados, enquanto em SAD são 24 utentes e o acordo é para sete a 100% e 13 a 50%.
“Este é um problema que as instituições desta dimensão, futuramente, vão deparar-se e que vai ser complicado. Há algumas instituições, a nível nacional e distrital, que estão a entrar em insolvência. É que aquele tempo de as pessoas ajudarem através de donativos acabou, portanto as instituições vivem apenas das comparticipações e das mensalidades dos utentes e estas são cada vez mais diminutas porque as pensões são cada vez mais baixas, sendo que a maioria das pessoas aqui recebe a pensão mínima”, alerta José Alves.
Obviamente estas situações refletem-se nas finanças das instituições e no caso da instituição da Lardosa não lhe dá folga para melhoramentos.
“A situação financeira está no fiel da balança, as receitas cobrem as despesas. Isto devido a uma gestão rigorosa, porque o grande custo que temos é com os recursos humanos. E este é um problema transversal a estas instituições, sejam elas grandes ou pequenas, e contrariamente ao que as pessoas pensam não é fácil aumentar o salário mínimo”, lembra, justificando: “Os acordos de cooperação mantêm-se, os rácios de pessoal são muito exigentes, a Segurança Social também não cumpre com algumas das obrigações e as instituições necessitam desse dinheiro. E as instituições mais pequenas sentem-se mais com estas situações de atrasos de pagamento”.
Mesmo assim, os Amigos da Lardosa não deixam de olhar o futuro com ambição, apesar de o panorama de financiamentos não ser o mais favorável.
“Há um projeto para requalificar o espaço onde funcionava o ATL e onde temos um gabinete de fisioterapia e uma sala de formação para transformá-lo num Centro de Dia”, revela José Alves, explicando: “Ou seja, passaríamos essa valência para aquele espaço, uma vez que este edifício está na capacidade máxima e assim ganharíamos algum espaço. O projeto está feito e foi entregue na Segurança Social, mas estamos à espera do parecer positivo, até porque já temos o apoio da Câmara”.
Para o presidente da instituição, o grande objetivo passa por “ganhar espaço para as pessoas terem mais qualidade de vida”.
Este projeto vai de encontro ao pensamento dos dirigentes da instituição que, como diz o presidente, “é preciso inovar”, até porque em ERPI não há vaga e sabe-se que elas apenas surgem por falecimento de um utente.
“A maioria das pessoas da aldeia trabalham em Castelo Branco e os seus pais, cada vez mais idosos, necessitam de apoio durante o dia e o Centro de Dia dá esse apoio, aqui e na aldeia de Vale da Torre. Muitas das pessoas que aqui estão são da freguesia, conhecem-se e, por isso, há grande sociabilização entre elas, o que é muito importante”, sustenta, avançando: “Cada vez mais temos que pensar de forma diferente, porque dantes as pessoas quando eram institucionalizadas ainda tinham a mente em condições, mas hoje já não é bem assim. Hoje chegam numa situação de grande dependência, com pouca mobilidade e com demências. O estereótipo do utente de lar hoje é muito diferente, pelo que é preciso apostar nas outras duas respostas sociais que temos, ou seja, no Centro de Dia e no Apoio Domiciliário”.
José Alves lembra que “há pessoas que já não têm capacidade para estar em casa sozinhas, até porque é um perigo, pelo que uma aposta no SAD potenciado com o Centro de Dia é uma boa resposta”.
E esta aposta surge depois de ter sido pensada a construção de um outro lar, num terreno junto ao atual.
“Mas a Rede Social não admitia mais lares e depois era um investimento muito avultado e a instituição não tem capacidade para isso. E isto pode mudar dentro de cinco, seis anos, até porque já há instituições no distrito com problemas de camas vagas”, lembra.
Por isso, “é preciso inovar”, até porque “a realidade do próximo utente das respostas sociais não se coaduna só com internet e hidroginástica, tem que ter algo mais”, sustenta José Alves, acrescentando: “Os futuros utentes vão ser muito mais exigentes e os que vierem depois ainda mais. As pessoas hoje ainda são humildes, sofredoras, passaram por muito nas suas vidas, com grande capacidade de sofrimento, mas os que vierem a seguir já não são assim, serão muito mais exigentes”.
E como seria a Lardosa sem o Centro Social? “Começaria por perguntar, o que seria o País sem as IPSS se tivesse uma crise como teve?”, questiona, respondendo de imediato: “Seria o caos”.
Quanto ao Centro Social Amigos da Lardosa: “Somos o maior empregador da freguesia. A economia local é potenciada pela instituição. Os comportamentos alteraram-se, a própria higiene, a saúde, etc. As condições de apoio à comunidade são muito diferentes agora. As pessoas idosas da freguesia quando necessitam de algo procuram o Lar, que também é uma âncora da aldeia”.

 

Data de introdução: 2017-03-30



















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