VOLUNTARIADO

Um em cada seis portugueses (16%) dedica-se a ajudar os outros

De todas as idades, dedicados a causas diferentes por diferentes razões e unidos pela sensibilidade e vontade de ajudar, os voluntários constituem já cerca de 16 por cento da população portuguesa, segundo um estudo de 1999.

Ana Cristina Calheiros, de 48 anos, dedica- se a esta actividade há apenas seis meses no serviço de pediatria do Hospital de Santa Maria e na Cruz Vermelha, onde trabalham mais 10.000 voluntários, e afirma já ter ganho uma "nova perspectiva de vida".

"Hoje sinto-me útil e vejo as coisas de forma diferente. Como trabalho com pessoas com problemas e com crianças que sofrem doenças crónicas passei a valorizar mais determinadas coisas, em vez de passar o tempo chateada com porcarias de coisa nenhuma", explica.

Com as duas filhas já crescidas, Ana Cristina decidiu deixar o emprego de analista informática num banco, onde tinha "uma vida muito atrofiante e preenchida de stress", para se dedicar ao voluntariado, uma ideia que alimentava há vários anos, mas que não esperava ser tão gratificante. "Antes levantava-me de manhã, desejando que o tempo passasse rápido para me deitar à noite. Hoje voltei a não ter tempo para nada, mas agora é saudável porque ajudo os outros, fazendo o que gosto", disse à Lusa.

Ana Cristina é uma das mais de 313.000 pessoas já contabilizadas pelo Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado (CNPV), que lançou um inquérito junto de diversas organizações e bancos locais de voluntariado para saber o número total de pessoas envolvidas nestas actividades em Portugal.

Apesar de a recolha de dados ainda estar em curso, o CNVP calcula que o número real de voluntários seja muito superior, já que, segundo estimativas do Estudo Europeu dos Valores, realizado em 1999, cerca de 16 por cento da população portuguesa (um em cada seis portugueses) dedica parte do seu tempo a estas actividades.

Tomás Costa tinha apenas 13 anos quando pediu à mãe, como prenda do Dia da Criança, que o levasse ao Banco Alimentar para ajudar no armazém. Os resultados dos testes psicotécnicos realizados na escola vieram apoiar a decisão de se tornar voluntário, indicando que a sua principal vocação é a acção social.

Hoje, com 15 anos, continua a colaborar com o Banco Alimentar e dedica duas tardes por semana a colaborar nas sessões de hipoterapia (terapia com cavalos) na Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral, depois de já ter sido voluntário durante seis meses na Liga Portuguesa de Deficientes Motores. "Gosto muito de ajudar os outros e de os compreender", afirma, sem mais explicações.

Mais faladora, a mãe, Rita Melo, adianta as razões da vocação do Tomás: "Está sempre disponível para os outros, tem uma grande sensibilidade e um olhar relativamente à deficiência e à diferença que não tem nada a ver com o dos miúdos da sua idade".

Como o Tomás, são cada vez mais os jovens a participar sem qualquer contrapartida neste tipo de actividades, segundo dados do Instituto Português da Juventude (IPJ), que só no ano passado registou quase sete mil voluntários, 85 por cento dos quais no Euro2004.

No Verão do ano passado, 341 jovens estiveram a monitorizar a floresta nos distritos de Castelo Branco e Coimbra para prevenção de incêndios, uma campanha que deverá contar este ano com cerca de dois mil voluntários, de acordo com o IPJ.

Dados como estes permitem ao CNPV afirmar que aumentou "o interesse das pessoas em iniciar voluntariado nas mais diversificadas áreas de actuação", nomeadamente ao nível da saúde, reinserção social, educação, cooperação para o desenvolvimento, protecção do ambiente ou associativismo recreativo.

Essa é também a impressão dos voluntários que diariamente trabalham no terreno e que, como Teresa Sá Marques, educadora de infância de 38 anos, vêem aumentar o interesse das pessoas por este tipo de actividade.

Há um ano a fazer voluntariado, primeiro na Ajuda de Berço e, desde Setembro, na Ajuda de Mãe, Teresa dedica três dias por semana a prestar apoio às jovens mães e aos seus filhos, uma experiência que diz ser "muito enriquecedora e gratificante".

"Não se ganha ordenado, mas ganha-se muito mais do que isso. Como não há mais nada implicado além do afecto e da boa-vontade, acaba por ser mais gratificante do que um trabalho normal. Diariamente, acabamos por receber muito mais do que damos", afirma.

Espalhadas por todo o país, existem perto de 19.000 colectividades de cultura, desporto e recreio que funcionam graças ao trabalho de mais de 200.000 voluntários, o mesmo acontecendo com as cerca de 90 organizações não-governamentais para o desenvolvimento e com as 4.000 Instituições Particulares de Solidariedade Social. "As associações que lutam diariamente para mudar as coisas vivem quase exclusivamente de voluntários. Acho mesmo que o mundo parava se o voluntariado acabasse", conclui.

 

Data de introdução: 2005-04-01



















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